Eles jogam nas 11 #1

Uma característica importante de qualquer empreendedor, seja ele artista ou não, é sua capacidade de se envolver em diversos projetos de uma só vez, muitas vezes assumindo diferentes funções em cada um deles. Empreendedores são pessoas curiosas por natureza, e talvez por isso, quando não tem conhecimento sobre um assunto, pesquisam até o ponto de se tornarem fluentes nele, caso seja preciso. Outras vezes, quando não possuem uma característica ou competência necessária pra determinada tarefa, correm atrás para adquiri-la. Talvez por isso, muitos de nós saibamos fazer muitas coisas e tudo ao mesmo tempo aqui agora. Confesso que sinto certo preconceito com pessoas que se dão bem em diferentes atividades. Eu mesmo, por diversas vezes, escutei a famosa frase: “mas quem sabe fazer um monte de coisas, acaba que não é bom em nenhuma delas.” Isso não é verdade, e se você é assim como eu, sabe exatamente o que eu estou falando... A maneira de organizar o trabalho nos dias de hoje fez com que as pessoas tivessem que  ser guardadas em caixinhas organizadoras, divididas por competências. Mas e pessoas que tem várias competências, como fazem? São partidas ao meio para serem guardadas? Confesso que às vezes é assim que eu me sinto... Porque na divisão a artista fica numa caixinha e a empreendedora fica em outra. E eu, inteira, fico aonde?

O empreendedor é dotado de capacidade de manter várias bolas no ar ao mesmo tempo, como um malabarista. Mas no empreendedor da área artística essa capacidade muitas vezes é exercitada por necessidade. Quem de nós não se sente assim de vez em quando? Um malabarista? Seja por vontade, capacidade ou necessidade, nós aprendemos a jogar em várias posições ao mesmo tempo. A gente lança a bola, corre pra fazer o ataque, e depois corre de volta pra defender o gol, quando o time adversário toma a bola.

Em homenagem a esses artistas multi-tarefas, inicio aqui uma lista de 11 deles que jogam nas 11, pra que a gente se inspire a fazer sempre mais e melhor! 



Selton Mello: em entrevista no ano passado à Revista Bravo, ele conta “O Paulo Betti já me disse que entrei nessa roda-viva de atuar, escrever roteiros e dirigir porque receio o desemprego: ‘você vai ocupando todas as brechas. Joga nas 11 posições. Se fecharem uma porta ali, você abriu outras acolá’. Ele pode estar certo, né?” Na mesma entrevista Selton conta que a suposição de Paulo Betti insinua que o ator aprendeu a agir dessa forma depois de ser dispensado da TV quando pequeno. Vale a leitura. 

Miguel Falabella: ele é conhecido por ser workaholic e dormir poucas horas por dia, e  vira e mexe ouvimos falar de um novo projeto em que está envolvido. Se contar direito, é capaz de descobrirmos que Falabella atua em mais do que 11 posições. Ele é ator, autor e diretor (de teatro, cinema e TV), produtor de projetos diversos, e já se aventurou como adaptador, apresentador de TV, cronista, dublador, gestor da Rede Municipal de Teatros do Rio de Janeiro e acreditem, carnavalesco da Império da Tijuca. Sobre sua capacidade de atuar em várias vertentes Falebella disse em entrevista à revista Go’Were, entitulada Fala Belo: “Outro dia saiu uma discussão sobre a inconveniência de atores que não são cantores. Eu disse: meu querido, só no Brasil tem essa bobagem, porque Lauren Bacall e Katharine Hepburn foram para a Broadway.” Se precisa cantar, ele vai lá e aprende! Pra ler, a entrevista está no site do multiartista.
 
Marcelo Tas: atualmente na TV aberta com o CQC da Band, Tas tem uma longa história profissional, que inclui trabalhos como ator, apresentador, jornalista e escritor, mas sua trajetória inclui outras tantas peripécias. Ele é o que podemos chamar de artista multimídia, pois se expressa de diversas formas, falando para públicos distinstos. Em 89 por exemplo, Tas concebeu uma instalação multimídia entitulada TV Mundial para uma mostra internacional no Rio. Já no final de 2009 lançou “Nunca antes na história desse Pais”, livro que organizou a partir de frases do presidente Lula. De tecnologia à política, ele bate um bolão. 

Carla Camurati: após uma premiada carreira como atriz de cinema e televisão, nos anos 80, ela lançou-se como diretora, produtora, roteirista e distribuidora em 1995, com o longa-metragem Carlota Joaquina - A princesa do Brasil, filme que se tornou um marco da era da retomada da produção nacional. Para empenhar a tarefa, lançou a Copacabana Filmes que encabeça diversos projetos de Carla e suas sócias, em teatro, TV e cinema. Em 2007 assumiu a tarefa de presidir o Theatro Municipal do Rio de Janeiro em plena crise, e lá continua até hoje. 

Suzana Pires: Suzana ficou conhecida do grande público recentemente ao interpretar a personagem Ivonete, na novela das sete “Caras e Bocas”, de Walcyr Carrasco. Alem de atuar, produzir, escrever crônicas e peças teatrais, ela tem uma empresa do setor cultural e até já escreveu livro. O assunto: a difícil e árdua tarefa de empreender em arte. “Artista empreendedor” pretende fornecer ao leitor o conhecimento necessário para aliar a capacidade artística com a capacidade de realização.  Soa familiar, não? 

E você? Joga nas onze? Conhece alguém que joga?


Imagens: 
Selton Melo: divulgação "Meu nome não é Johny"  
Miguel Falabella: divulgação Rede Globo
Marcelo Tas: por Renato Stockler 
Suzana Pires: divulgação Rede Glob