Conhecer sua audiência: tarefa primordial para o empreendedor cultural




















Entender e conhecer sua própria audiência é tarefa essencial para artistas empreendedores interessados em aumentar seu público e consequentemente ter nas apresentações de espetáculos uma fonte de renda viável e sustentável. Infelizmente, isso ainda não é o acontece com a maioria de nós artistas brasileiros, mas há exceções, com certeza! Artistas que possuem respaldo da mídia tradicional, especialmente TV, como os que atuam em novelas, conseguem alavancar grandes públicos quando se apresentam em teatros; grupos de dança e teatro tradicionais e renomados como os bons exemplos mineiros Corpo e Galpão também angariaram ao longo de anos essa reputação que atrai grandes platéias. Outros casos são construídos dia-a-dia,  também ao longo de anos, como os  também mineiros e também bem sucedidos Espanca! e Luna Lunera que, apesar de relativamente novos, conseguem ter bons públicos em temporadas abertas. Um outro exemplo a ser citado é o caso dos também conterrâneos da Cangaral  - Ílvio Amaral e Murício Canguçu - que já levaram mais de 1 milhão e meio de pessoas ao teatros de todo o Brasil, para assistir "Um espírito Baixou em Mim", sem falar de seus outros esptáculos, mas esse caso, é um fenômeno à parte que merece um estudo mais apurado para apontar os motivos. 

E é sobre isso que quero falar hoje: de como é necessário e está cada vez mais fácil para o artista empreendedor apurar quem é o seu público, como ele fica sabendo do seu espetáculo, o que o fez sair de casa para ir até o teatro assistir. 

Participo, ao lado da jornalista e divulgadora Bia Morais, que por um grande acaso também é minha mãe (rs...), de um trabalho entitulado "Divulgação Cultural: Pesquisa e Levantamento de Dados", que está sendo entregue esse mês ao Fundo Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte, responsável pelo financiamento da mesma. O objetivo é tentar entender os mecanismos e as relações existentes na tarefa de comunicar na área da Cultura. Bia entrevistou artistas, jornalistas, divulgadores, diretores e produtores para tentar decifrar os entraves e apontar possíveis soluções para a divulgação cultural. O resultado da pesquisa, esperamos nós, vocês tomarão conhecimento em breve, através da publicação em livro, mas divulgo aqui uma parte da mesma da qual fui responsável: a pesquisa de público. 

Ao final do processo das entrevistas percebemos que não daria para falar em divulgação cultural sem escutar esse outro lado da questão: o público. Foi então que fizemos, com a inestimável parceria de 7 artistas/grupos locais de Belo Horizonte, uma pesquisa para decifrar questões importantes. Tiramos cópias de cerca de 500 questionários que foram aplicados nos teatros por nós, pelos produtores responsáveis, ou por profissionais do espaços em que os espetáculos eram apresentados. Esse material depois foi compilado, utilizando uma ferramenta web-based, analisado e colocado na forma de uma apresentação utilizando Power Point. Cabe aqui dizer que é possível fazer tudo isso com muito pouco dinheiro, mas que o retorno, ao aplicar a divulgação tendo em vista o resultado, conseguido, pode ser muito gratificante, na forma de mais público.

Compartilho com vocês abaixo a pesquisa e também nossas considerações a respeito da mesma. Espero que os motivem a arregaçar as mangas a descobrir quem é o seu público e que com isso, aumente a presença dele nos seus espetáculos e ações.  
Divulgação Cultural - Pesquisa e Levantamento de Dados - Pesquisa de Público

Considerações:


Gênero:
Os resultados indicam que o público feminino foi mais presente nos eventos artístico/culturais pesquisados. Esse dado não é novidade, mas sugere que se o produtor souber canalizar a divulgação para as mulheres, colocando seus flyers impressos não apenas nos pontos culturais tradicionais, mas também em locais freqüentados por elas, como salões de beleza, spas, lojas de artigos femininos, terá boas chances de atrair não apenas mais público feminino, mas de ampliar a presença de público masculino. Se é o feminino o gênero mais interessado em freqüentar eventos culturais, é também o que leva mais acompanhantes como outras mulheres e homens. Sites destinados ao público feminino, programas de variedades em rádio e TV, revistas, devem ter atenção especial do divulgador.

Faixa etária:
A idade do público pesquisado sofreu variação de acordo com o tipo de evento, mas a pesquisa apontou predominância da presença de pessoas na faixa entre 20 e 30 anos. Os motivos não foram levantados nesta pesquisa, mas uma possibilidade é apostar que esta faixa reúne jovens estudantes ou jovens já formados, inseridos no mercado de trabalho e autônomos financeiramente. Mas isso não é importante para a conclusão desse trabalho. O fundamental é notar que existe um enorme público potencial, das outras faixas etárias esperando ser seduzido pelos produtores. Mesmo que os temas de espetáculos, shows, exposições possam, teoricamente, interessar a uma faixa etária determinada, nada impede que seja feito o direcionamento da divulgação para outras faixas. Ao artista / produtor cabe conhecer a faixa etária de seu público, não só para reforçar a divulgação entre os mais frequentes, para identificar oportunidades de persuasão de um público não tão freqüente.

Profissão:
As três categorias mais presentes na pesquisa foram a dos estudantes, dos servidores públicos e dos aposentados. Destacando apenas essas, pode-se vislumbrar excelentes possibilidades de divulgação em escolas, universidades, bibliotecas, centros acadêmicos, entidades que congregam aposentados e servidores públicos. Para isso é fundamental que a divulgação seja tão prioridade quanto todos os outros itens da produção de um bem cultural. O espetáculo São Francisco de Assis à Foz, divulgou, entre outros locais, em paróquias e igrejas. Em uma das apresentações havia um padre na platéia.Como se vê, divulgação é uma atividade trabalhosa, dinâmico, e sobretudo requer muita reflexão e criatividade. Ao descobrir novos nichos de público e como chegar a eles, a eficácia quando se dedica a ele tempo e planejamento. E não adianta só o planejamento: toda ação de divulgação deve ter seu resultado monitorado e analisado para possível correção de rota.

Grau de Instrução:
O resultado desse item foi variável no geral. A exposição “O Grivo” foi o evento onde se pode perceber maior equilíbrio, com visitantes com escolaridade do ensino fundamental, médio e superior em números equivalentes.

É importante ressaltar a necessidade de se adequar a mensagem ao tipo de público: se o público é composto por pessoas de mais baixa escolaridade, a mensagem deve ser mais objetiva e direta; se for um público de escolaridade elevada, a mensagem pode ser mais simbólica.

Localidade de origem:
Além de reforçar a divulgação nos lugares de origem do público, é importante ampliar o raio de ação para locais potencialmente fornecedores de público como bairros mais distantes e os órgãos culturais e turísticos das cidades da região metropolitana, que têm sempre interesse em divulgar eventos para suas comunidades. Turistas de passagem por Belo Horizonte também procuram por diversão e cultura: hotéis, postos da Belotur, aeroportos, terminal rodoviário são exemplos de onde pode ser deixado material gráfico do evento. Importante ressaltar a força que a pesquisada ZAP 18 tem em seu entorno, mas não só nele. Os espetáculos da companhia são freqüentados em grande medida pelo público das regiões próximas ao bairro Serrano, onde está situada a sede, mas também consegue levar o público padrão consumidor de cultura ao bairro, que fica a aproximadamente 15km da região central de Belo Horizonte. Conclusão: se há um bom trabalho sendo exibido, e se a divulgação for feita corretamente, o público acaba comparecendo, e item como localização acaba ficando em segundo plano.

Meios de divulgação:
Os dados obtidos em relação à pergunta mais relevante desta pesquisa (Por qual meio de divulgação você ficou sabendo do evento?) indicam que a Internet já é o meio de divulgação mais acessado pelo público em geral.

De um universo de 443 pessoas que responderam o questionário, 73 ficaram sabendo por jornal impresso e 93 pessoas pela Internet (portais, blogs, Orkut, e-mail marketing, newsletter, e-flyer, Twitter e Myspace).

Em terceiro lugar está o rádio, com 52 pessoas, seguido pela televisão, com 28 pessoas.

A opção “Outros”, que permitia auto preenchimento, foi respondida por 197 pessoas. Em “Outros” estavam indicação de amigo do elenco, parente, namorado, empresa, instituição apoiadora, no local do evento (daí a importância de divulgar em placas no próprio local do evento e deixar material gráfico para ser distribuído pelos funcionários do espaço que também deverão estar bem informados sobre os detalhes do evento).

O resultado evidencia que o antigo boca a boca continua  sendo a forma mais efetiva de divulgação só que hoje é feito pela Internet, que dispensa o contato pessoal ou o telefonema. Indica também que os consumidores de cultura tendem a repassar material de divulgação com muito mais facilidade e agilidade pela Internet, principalmente se há uma solicitação nesse sentido e se já viram o evento e gostaram.

Nem sempre as pessoas ficaram sabendo do evento por apenas um meio de divulgação, por isso mesmo, nenhum deles deve ser descartado, ainda.

Uma forma de estimular o boca a boca é usar a força de comunicação do próprio elenco, seus amigos e parentes. O elenco tem de “comprar” a causa da divulgação também. É preciso gastar tempo ensinando e motivando as pessoas, mas o resultado aparece. Um exemplo disso aconteceu no show “Gracias a la Vida”, que contou com dois cantores (Néstor Gurry e Lígia Jacques), quatro músicos (Hudson Brasil) e 16 integrantes do grupo Os Cobra Coral. Houve forte mobilização de todas os envolvidos, que dispararam o flyer virtual várias vezes para seus catálogos de endereços, convidando  e solicitando o repasse a amigos.

Uma pessoa amiga de vários dos integrantes chegou a brincar dizendo que não agüentava mais receber e-mail do show Gracias a la Vida. O público lotou o Teatro Izabela Hendrix nas duas apresentações, havendo necessidade de cadeiras extras.

Outro estímulo ao boca a boca é criar promoção: distribuir, na saída do evento, filipetas nas quais se solicita sua indicação a amigos. Se o amigo trouxer a filipeta de volta, terá direito a um desconto. Isso, alem de estimular o boca a boca, possibilita também o monitoramento do resultado da promoção.

Veículos mais comumente consumidos:
Novamente a Internet ficou à frente, com 36% das respostas, seguida pela TV com 24% (as pessoas assistem muito a TV, mas não ficam sabendo da maioria dos eventos médios por ela, porque as TVs dão espaço primordialmente para os grandes eventos), pelos jornais impressos e pelas rádios, ambos com 17%. Em último lugar ficaram as revistas customizadas ou especializadas com 6%.

Ficou demonstrado também que não está claro para a maioria das pessoas a diferença entre matéria e anúncio em jornal, rádio ou TV. O que elas lembram é que se informaram sobre o evento no veículo.



Abraços espaciais, 
Rafaela Cappai